Autoras:‌ ‌‌Evellyn‌ ‌Caroliny‌ e ‌Michely‌ ‌Alvarenga‌ ‌ ‌

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Tema‌ ‌da‌ ‌Aula:‌‌ ‌Aspectos do modo de produção capitalista e crise ambiental.

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Objetivos‌ ‌da‌ ‌Aula:‌ Relacionar os aspectos da obra audiovisual Man com características do modo de produção capitalista. Discutir aspectos da crise ambiental. Discutir o sistema capitalista e algumas relações que lhe estruturam.

 

O que as estudantes podem aprender com a aula: Podem desenvolver a habilidade de interpretação e análise de uma obra. Também podem aprender a analisar o modo de produção capitalista a partir de ferramentas conceituais fornecidas por um texto base.

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Roteiro Aula I:‌ ‌

  1. Apresentar a obra audiovisual Man de Steve Cutts;
  2. Dividir a sala em grupos (a depender da quantidade de estudantes);
  3. Os grupos irão responder algumas questões sobre a obra;
  4. Apresentação oral das respostas de cada grupo para turma;
  5. Apresentação do conteúdo a partir das contribuições dos alunos.

 

Roteiro Aula II:‌ ‌

  1. Reapresentação da obra;
  2. Cada grupo receberá um trecho do texto que relaciona a crise do capitalismo com a crise ambiental
  3. Discussão entre os membros do grupo a partir de questões sobre o texto;
  4. Apresentação oral para turma;
  5. Comentários do professor sobre o conteúdo do texto;
  6. Esquematização no quadro do conhecimento construído coletivamente a partir da leitura dos textos e da análise do vídeo.

 

Metodologia:

 

Recursos Didáticos/ Estratégias de Ensino:

 

O primeiro momento da aula está destinado a explorar as habilidades analíticas das estudantes, por meio de perguntas direcionadas sobre a obra Man. Isso visa extrair o conhecimento na modalidade de doxa. Partindo do senso comum e dos conhecimentos que os próprios estudantes reuniram em conjunto ao discutir a obra e responder às questões, o segundo passo é ir da doxa ao conhecimento sistematizado e crítico. Os textos de apoio, trabalhados na próxima aula, visam fazê-los refletir novamente, mas de forma estruturada, utilizando as categorias analíticas apresentadas no exercício de ler a obra a partir delas.

 

Conteúdo:

 

Aula 1 - Questões sobre a obra Man:

  1. Qual a tese/ideia central do vídeo apresentado? (O vídeo é sobre o quê?)
  2. Escolham três palavras-chaves que melhor sintetizam as ideias que mais chamaram atenção no vídeo.
  3. Que parte/momento do vídeo fez vocês pensarem em cada palavra que escolheram na questão anterior?

 

Diálogo sobre o vídeo a partir das palavras e questões levantadas pelas estudantes ao responder as questões

 

 

Aula 2 - Realizar uma leitura acompanhada com as estudantes, explicando termos específicos e que gerem dúvidas à compreensão do texto e em seguida pedir para se reunirem em grupos para responderem às questões.

 

Questões sobre o texto selecionado:

  1. Sobre o que o texto fala? O que vocês entenderam com a sua leitura?
  2. Escolham três palavras-chave em cada parágrafo que melhor se relacionem com sua ideia central.
  3. Como essas palavras podem ser relacionadas com o vídeo? Em quais trechos?

 

Exposição das ideias discutidas em grupo, seguida da explanação do conteúdo da aula:

 

            O capitalismo estrutura o mundo na forma como conhecemos hoje, por isso é de suma importância refletir sobre sua lógica e seus impactos. Como argumentam as autoras Ana Carolina Hacon e Vanessa Quintana (2011), o século XX se inicia com uma crise social, marcada pelo desemprego em larga escala e a inflação crescente. Isso tudo dentro de um cenário globalizante de um mundo com economias cada vez mais dependentes.

Nesse contexto de crise generalizada e crítica aos velhos paradigmas, emerge a questão ambiental em escala global, lembrando a humanidade dos limites físicos/sociais para o processo capitalista de acumulação desenfreada. Para as autoras, novos processos de expropriação vem sendo criados e neles figuram o desmonte das legislações (trabalhista, ambiental, etc.) e a privatização dos recursos ambientais, com o aumento da concentração de renda proveniente de sua exploração. Assim, observa-se uma racionalidade, uma lógica a que tudo mercantiliza (e a natureza não poderia ficar isenta).

No caso do Brasil, se remontarmos o período de sua “descoberta” e colonização, iremos verificar uma relação com a natureza pautada pela dominação. A racionalidade, que civiliza o “mato” transformando-o em jardim, concebe a natureza como recurso e encarna o domínio do “homem” sobre todas as coisas. Segundo Diogo de Carvalho Cabral (2014), o português que aqui chegou, mesmo que de forma inconsciente, derrubava a Mata Atlântica para se definir na nova situação socionatural, o portador de uma herança europeia civilizatória.

Quando adentramos o século XX, o capitalismo já tem outra configuração, com a intensificação da expropriação e acumulação, a partir da financeirização. Com isso, temos também a intensificação da exploração da natureza, antes um problema a ser enfrentado pelas gerações futuras e agora, como argumenta Michael Lowy (2013), uma questão mais do que urgente. Segundo o autor, não importa a gravidade da crise ecológica, ela não irá levar ao fim do sistema capitalista, esse modo de produção encontrará novas formas de explorar o planeta e se perpetuar.

Para Lowy, tanto a crise social quanto a ecológica resultam de um sistema que a tudo explora e transforma em mercadoria, que não segue outra lógica senão a do acúmulo de capital. Ambas as crises (social e ambiental) se interligam numa crise geral: a crise da civilização capitalista moderna, baseada num modo de vida específico e historicamente localizado, o “american way of life”. Modo de vida este que só pode existir enquanto privilégio de uma minoria, já que se mostra insustentável para ser estendido, pois é baseado no consumir mais e cada vez mais, enquanto alimenta um sistema de expropriação social e natural.

 

 

Trecho do texto escolhido para suscitar o diálogo:

 

LOWY, Michael. Crise Ecológica, crise capitalista, crise de civilização: a alternativa ecossocialista. CADERNO CRH, Salvador, v. 26,  67, p. 79-86, Jan./Abr. 2013.

 

A crise econômica atual é, sem dúvida, a mais grave na história do capitalismo desde 1929. Provocando desemprego massivo, recessão econômica, quebra de bancos, endividamento insuportável dos Estados, gera sofrimento, miséria, desespero, levando muitas de suas vítimas ao suicídio. Ela ilustra a total irracionalidade de um sistema econômico baseado na mercantilização de tudo, na especulação desenfreada, no totalitarismo dos mercados financeiros e na globalização neoliberal a serviço exclusivo do lucro capitalista. Os governos – seja de direita, seja de “centro-esquerda” – se revelam incapazes de propor uma saída, e insistem, com uma extraordinária obstinação, na aplicação das tradicionais receitas neoliberais – privatizações, corte de recursos para a educação e a saúde, redução dos salários e das pensões, demissão de funcionários públicos, – que têm como único resultado: agravar a crise, intensificar a recessão e aumentar o peso da dívida.

Por outro lado, seria uma ilusão acreditar – como pensam muitos marxistas – que se trata da “crise final do capitalismo” e que o sistema está condenado a desaparecer, vítima de suas contradições internas. Como já dizia Walter Benjamin, nos anos 1930, “o capitalismo nunca vai morrer de morte natural”. Em outros termos: se não houver uma ação social e política anticapitalista, um movimento de insurgência dos explorados e oprimidos, o sistema poderá continuar ainda por muito tempo. Acabará, como no passado, por encontrar alguma saída para a crise, seja por medidas keynesianas – hipótese mais favorável – seja pelo fascismo e pela guerra.

O mesmo vale para a crise ecológica. Por si mesma, ela não leva ao “fim do capitalismo”; por mais que acabe o petróleo, ou que se esgotem outras fontes essenciais da riqueza, o sistema continuará a explorar o planeta, até que a própria vida humana se encontre ameaçada.

A crise econômica e a crise ecológica resultam do mesmo fenômeno: um sistema que transforma tudo – a terra, a água, o ar que respiramos, os seres humanos – em mercadoria, e que não conhece outro critério que não seja a expansão dos negócios e a acumulação de lucros. As duas crises são aspectos interligados de uma crise mais geral, a crise da civilização capitalista industrial moderna. Isto é, a crise de um modo de vida – cuja forma caricatural é o famoso american way of life, que, obviamente, só pode existir enquanto for privilégio de uma minoria – de um sistema de produção, consumo, transporte e habitação que é, literalmente, insustentável. Atualmente, a crise financeira – “como salvar os bancos e pagar a dívida” – é a única que preocupa os vários governos representativos do sistema, com a crise ecológica praticamente desaparecendo dos seus horizontes, como o demonstra o recente fracasso da Conferência Rio+20. Mas, do ponto de vista da humanidade, o maior perigo, a ameaça mais preocupante, é a crise ecológica, que, contrariamente à crise financeira, não tem solução nos marcos do sistema.

Há alguns anos, quando se falava dos perigos de catástrofes ecológicas, os autores se referiam ao futuro dos nossos netos ou bisnetos, a algo que estaria num futuro longínquo, dentro de cem anos. Agora, porém, o processo de devastação da natureza, de deterioração do meio ambiente e de mudança climática se acelerou a tal ponto que não estamos mais discutindo um futuro a longo prazo. Estamos discutindo processos que já estão em curso – a catástrofe já começa, esta é a realidade. E, realmente, estamos numa corrida contra o tempo para tentar impedir, brecar, tentar conter esse processo desastroso.

Quais são os sinais que mostram o caráter cada vez mais destrutivo do processo de acumulação capitalista em escala global? Eles são múltiplos e convergentes: crescimento exponencial da poluição do ar nas grandes cidades, da água potável e do meio-ambiente em geral; início da destruição da camada de ozônio; destruição, numa velocidade cada vez maior, das florestas tropicais e rápida redução da biodiversidade pela extinção de milhares de espécies; esgotamento dos solos, desertificação; acumulação de resíduos, notadamente nucleares (alguns com duração de milhares de anos), impossíveis de controlar; multiplicação dos acidentes nucleares – Fukushima! – e ameaça de um novo Chernobyl; poluição alimentar, manipulações genéticas, “vaca louca”; secas em escala planetária, escassez de grãos, encarecimento dos alimentos. Todos os faróis estão no vermelho: é evidente que a corrida louca atrás do lucro, a lógica produtivista e mercantil da civilização capitalista e industrial nos leva a um desastre ecológico de proporções incalculáveis. Não se trata de ceder ao “catastrofismo”, mas, simplesmente, de constatar que a dinâmica do crescimento infinito, induzido pela expansão capitalista, ameaça destruir os fundamentos naturais da vida humana no Planeta.

 

Avaliação: Seguindo o modelo do Enem, pode ser pedido para os alunos construírem uma redação sobre o tema, a partir de textos motivadores.

 

Materiais

  • Quadro
  • Material para projetar a obra audiovisual
  • Trecho selecionado impresso

 

Materiais Complementares

 

https://www.youtube.com/watch?v=b4driJ-lrBI

 

https://www.youtube.com/watch?v=WcpZG3HkEtQ&list=PLPZ4y7b7MwOv0HV55UCMbXYFh6jjjneDP

 

 

Referências Bibliográficas

 

CABRAL, Diogo de Carvalho. O Mato: a mestiçagem e a construção da alteridade florestal. IN: Na presença da floresta. Mata Atlântica e história Colonial. Rio de Janeiro: Garamond, p. 61 -203, 2014.

CUTTS, Steve. Man. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=WfGMYdalClU>. Acesso em: 09 de novembro de 2019.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 1ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2013.

HORKHEIMER, Max & ADORNO, Theodor. A indústria cultural: o iluminismo como mistificação de massas. Pp. 169 a 214. In: LIMA, Luiz Costa. Teoria da cultura de massa. São Paulo: Paz e Terra, 2002. 364p. 

LOWY, Michael. Crise Ecológica, crise capitalista, crise de civilização: a alternativa ecossocialista. Caderno CRH, Salvador, v. 26,  67, p. 79-86, Jan./Abr. 2013.

QUINTANA, Ana Carolina e HACON, Vanessa. O desenvolvimento do capitalismo e a crise ambiental. O Social em Questão, Ano XIV, nº 25/26, p. 427 a 444, 2011.